Última atualização 30/04/2022 | 13:12
Você certamente já leu algo sobre trisal nos últimos meses. O assunto chama atenção por estar ‘em alta’, embora muitos arrisquem dizer que já estiveram em um sem saber. Para quem vive esse tipo de arranjo, o preconceito e as dúvidas são uma rotina. Do outro lado, a sociedade observa curiosa o novo formato de relacionamento que, para especialistas, é uma tendência ainda longe de ser reconhecida pela sociedade e pela legislação brasileira.
Juridicamente, apenas a monogamia vale no Brasil, seja ela para casais homossexuais ou heterossexuais. Fora dos tribunais, outros formatos de relação estão sendo cada vez mais expostos publicamente por quem os vive. A liberdade de estar em um tipo de relacionamento fora do padrão rompendo modelos tradicionais seria uma das explicações para o recente boom de notícias sobre o assunto.
“Hoje, as pessoas têm mais autonomia e têm uma vida mais só, trabalhando muito. Elas buscam relacionamentos mais livres, sem muita cobrança, com o direito de ficar com menino ou menina independentemente de um modelo fixo, sem regras. Apesar disso, a ideia de trisal tem regras definidas e se isso for conversado, definido e trabalhado emocionalmente entre os três é possível que dê certo”, afirma a psicóloga Carolina Ribeiro.
Ela acredita que maior parte da população brasileira tem dificuldades em assimilar essa novidade por se tratar de um país cristão e ser entendida como traição. Essa perspectiva é a mesma do presidente da Comissão de Família da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO), Christiano Lima. Para o especialista, a população tem o princípio da monogamia norteando a noção de família, o que retarda esse tipo de alteração das leis.
“Para haver alguma mudança nesse sentido é preciso ter uma forte demanda e mobilização social. Esses assuntos mais complexos geralmente chegam ao Supremo Tribunal Federal, que terá que se manifestar e decidir. Um fato semelhante a esse foi o que aconteceu quando Supremo reconheceu a união estável homoafetiva e depois determinou a aplicação desse princípio ao casamento em 2011. Creio que no caso dos trisais teremos algo parecido”, explica.
O advogado vislumbra os reflexos desse modelo de relacionamento em possíveis imbróglios jurídicos. Ele acredita que haverá muitos problemas em questões sucessórias para o integrante que não é casado e para filhos não registrados pelos três na chamada de multiparentalidade. Além desse aspecto, a regulamentação pode trazer alterações profundas em relação a aspectos previdenciários e do direito familiarista em geral.
Sucesso
Um dos primeiros casos de maior repercussão foi o de um trisal do Tocantins no qual uma das esposas é goiana. Na semana passada, outro trisal chamou atenção por anunciar que uma das mulheres deu à luz e que registrariam a criança com o nome das duas mães e do pai. Pela internet, uma busca rápida por “trisal” gera vários resultados. Em mídias sociais, os trisais fazem sucesso com perfis para compartilhar a rotina conjugal e também com alguns voltados a fazer pessoas interessadas nesse modelo se encontrarem.