O uso de tornozeleira eletrônica no regime semiaberto, apesar de auxiliar na fiscalização do condenado que cumpre pena em liberdade condicional, prejudica a reinserção na sociedade, em especial no mercado de trabalho. Em alguns casos, o usuário do aparelho eletrônico sofre preconceito e descriminação.
A manicure, Fernanda Rodrigues do Nascimento, de 37 anos, por exemplo, disse ao Diário do Estado que o marido Brunno Araújo da Silva, de 31 anos, foi preso por tráfico de drogas. No entanto, após quase dois anos atrás das grades, ele conseguiu ganhar o direito de liberdade condicional em 2020, com o uso de tornozeleira. Entretanto, desde que saiu para o semiaberto, Bruno nunca conseguiu trabalho.
“O Bruno teve Covid-19, teve de ficar intubado e precisou fazer traqueotomia, ele não consegue falar por agora. Por conta disso ele não pode estar em lugar abafado, com poeira. Fora isso tem a tonozeleira que tem um preconceito muito grande. As pessoas não dão oportunidade, essa tornozeleira é complicada. Muita gente não quer saber de nada, mas a gente tem corrido atrás. Ele quer mudança”, explicou.
Preconceito
Para Fernanda, o aparelho comumente utilizado como medida cautelar, faz com que as pessoas se precipitem na rua, gerando preconceito contra o casal. Ela diz que é comum passear por lugares públicos e privados e ser alvo de comentários, olhares e medo.
“Todo lugar que a gente vai as pessoas ficam olhando torto, sei que tem muita gente que faz coisa ruim, mas ele realmente quer mudança. Quando ele vai procurar emprego, as pessoas veem a tornozeleira e falam que não tá precisando ou então falam que a vaga já foi preenchida. Eu trabalhava em um salão há pouco tempo, quando a dona ficou sabendo que o meu marido estava preso fui mandada embora. Agora tenho medo de falar da minha vida e ser demitida de novo”.
Ressocialização
O processo de ressocialização e reintegração da população carcerária ainda está longe do ideal para a doutora em psicólogia, Jualiana Hanuum. Ela explica que uma vez preso, a pessoa sempre será um fora da lei na visão da sociedade, porque a ressocialização não parte apenas da pessoa que foi detida, mas também da sociedade.
“Por mais que tenha politicas públicas, a gente não tem uma reeducação da sociedade. O social precisa ter uma compreensão de como reintegrar e acolher essa pessoa dentro de uma sociedade, de uma comunidade. Além disso, fazer com que a população tenha uma visão de que a pessoa possa ser reintegrada na sociedade não é tão fácil, uma vez que o Brasil é um país muito preconceituoso. O preconceito ainda é muito presente na nossa sociedade, e quando as pessoas saem não acabam tendo oportunidades. Isso faz com que elas voltem para a marginalidade”, concluiu.