Delegada e psicóloga analisam relação entre futebol e violência doméstica

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Delegada e psicóloga analisam relação entre futebol e violência doméstica

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Avon informa que mulheres tendem a receber mais ameaças em dias de jogos de futebol, com base em cinco capitais brasileiras. Em Goiás, a delegada Cybelle Tristão não possui dados específicos, mas acredita que pode haver uma correlação. Já a psicóloga Marilúcia Lago traça uma análise social.

Futebol e violência doméstica

Segundo a pesquisa do Instituto Avon, os boletins de ocorrências de ameaça contra mulheres aumentam em 23,7% quando um dos clubes de futebol das cidades atuam. Os dados levaram em conta as seguintes capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre.

“É uma pesquisa interessante, vou até passar a observar isso”, afirma Cybelle Tristão, que atua na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), em Aparecida de Goiânia.

De acordo com a delegada, até então ela nunca havia feito essa correlação entre futebol e violência doméstica. Como as vítimas não costumam relatar detalhes além das próprias agressões, é difícil mensurar com precisão essa possível convergência. No entanto, a agente acredita que pode fazer sentido.

“O que eu vejo é que, em dias de jogos, a gente sabe que quem vai para jogar, torcer ou comemorar, ingere bebida alcoólica. Talvez, não estou afirmando, mas talvez possa haver uma correlação com esse fato. O jogo em si, friamente, não tem interferência. Falo isso enquanto Delegacia da Mulher de Aparecida”, reforça.

Na pesquisa do Instituto Avon, o estudo teve como base de dados de violência informações oriundas de todos os dias de jogos do Campeonato Brasileiro entre 2015 e 2018. Em análise, entraram em pauta apenas partidas da Série A. Porém, o Brasileirão tem outras três divisões, além daqueles clubes que disputam apenas estaduais.

“O jogo de futebol faz parte da cultura do nosso País, o brasileiro se envolve muito. As pessoas gostam muito de assistir, comemorar, jogar, praticar o esporte e depois confraternizar. Nessas comemorações, acaba havendo a ingestão de bebidas, deixando as pessoas mais exaltadas”, finaliza Cybelle.

Masculinidade tóxica

Assim como Cybelle Tristão, a psicóloga Marilúcia Lago também acredita que o aumento da violência se dê em função do abuso de álcool e outras drogas, que podem estar associados ao comportamento de assistir aos jogos.

Professora de Psicologia na UFG, doutora em psicologia clínica e psicopatologia pela Universidade de Nice, na França, e pesquisadora das relações entre subjetividade e violência social, Marilúcia explica que é necessário um processo educativo no futebol.

“Eu acredito que o futebol, como os demais esportes, são atividades fundamentais na sociedade. Exercem importante papel na socialização e canalização das energias. Até podem contribuir para o processo de inclusão e redução da violência. Porém, para que isso aconteça, é necessário que o esporte, tal como o futebol, venha acompanhado de processo educativo”, detalha Marilúcia, que também tem formação pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), em Portugal.

Segundo ela, proibir o uso de álcool nos estádios já foi um passo, mas o buraco é mais embaixo. “Quanto à masculinidade tóxica dos torcedores, acredito que seja um reflexo da cultura machista e violenta que está em todos os meios. É uma questão de processo educativo e falta de política de prevenção da violência e redução dos fatores de risco”, conclui.

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Quatro estudantes da PUC-SP são desligados após se envolverem em atos racistas durante jogo

Quatro estudantes de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) foram desligados de seus estágios em escritórios de advocacia após um vídeo viralizar nas redes sociais, mostrando atos de racismo e aporofobia cometidos durante uma partida de handebol nos Jogos Jurídicos Estaduais. O incidente ocorreu no último sábado, 17, em Americana, interior de São Paulo. Nos registros, os alunos ofenderam colegas da Universidade de São Paulo (USP), chamando-os de “cotistas” e “pobres”.

As demissões foram confirmadas por meio de notas oficiais enviadas às redações. O escritório Machado Meyer Advogados, por exemplo, anunciou a demissão de Marina Lessi de Moraes, afirmando que a decisão estava alinhada aos seus valores institucionais, com o compromisso de manter um ambiente inclusivo e respeitoso. O escritório Tortoro, Madureira e Ragazzi também confirmou a dispensa de Matheus Antiquera Leitzke, reiterando que não tolera práticas discriminatórias em suas instalações. O Castro Barros Advogados fez o mesmo, informando que Arthur Martins Henry foi desligado por atitudes incompatíveis com o ambiente da firma. O escritório Pinheiro Neto Advogados também comunicou que Tatiane Joseph Khoury não faz mais parte de sua equipe, destacando o repúdio ao racismo e qualquer forma de preconceito.

Repercussão do caso

O episódio gerou forte indignação nas redes sociais e foi amplamente criticado. O Centro Acadêmico XI de Agosto, que representa os alunos da Faculdade de Direito da USP, se manifestou, expressando “espanto, indignação e revolta” com as ofensas racistas e aporofóbicas proferidas pelos alunos da PUC-SP. A instituição ressaltou que o incidente representou uma violência contra toda a comunidade acadêmica.

Em resposta, a reitoria da PUC-SP determinou a apuração rigorosa dos fatos pela Faculdade de Direito. Em comunicado, a universidade afirmou que os responsáveis serão devidamente responsabilizados e conscientizados sobre as consequências de suas atitudes. A PUC-SP reiterou que manifestações discriminatórias são inaceitáveis e violam os princípios estabelecidos em seu Estatuto e Regimento.

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