PRF e Ministério da Justiça agiram para impedir votos de Lula nas eleições de 2022, aponta denúncia da PGR
Grupo levantou dados sobre onde Lula teve votação expressiva no primeiro turno do pleito para realizar bloqueios e blitz, impedindo eleitores de ir votar. O foco das operações foi em cidades do Nordeste.
Jair Bolsonaro (PL) se dirige à sede do PL em Brasília, nesta quarta-feira (19). — Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
A denúncia da Procuradoria-geral da República (PGR) contra Jair Bolsonaro (PL) e outros 33 por planejar uma tentativa de golpe de estado aponta que o grupo usou recursos da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Ministério da Justiça para tentar barrar o voto de possíveis eleitores de Lula (PT) no segundo turno das eleições de 2022. O objetivo do plano era manter Bolsonaro no poder.
A denúncia aponta que, com base na investigação da Polícia Federal (PF), o grupo fez um levantamento de onde Lula teve mais votos no primeiro turno das eleições presidenciais daquele ano, especialmente na região Nordeste, e preparou uma série de bloqueios e blitz nas estradas para impedir os eleitores de chegar até os locais de votação.
De acordo com a denúncia, após o primeiro turno das eleições de 2022, a delegada da PF Marília Ferreira Alencar, na época diretora de inteligência do Ministério da Justiça, pediu a elaboração de um projeto de “business intelligence” que fornecesse dados do resultado das urnas. O objetivo era obter informações sobre locais onde Lula havia obtido uma votação expressiva (nas cidades onde o petista teve mais de 75% dos votos válidos) e onde Bolsonaro havia sido derrotado, com foco especial nos municípios da região Nordeste.
A investigação da PF encontrou mensagens trocadas entre Marília e o então ministro da Justiça Anderson Torres, que “forneceu detalhes adicionais sobre as atividades ilícitas”. Um depoimento do analista de inteligência encarregado da coleta de dados à PF forneceu mais informações para a investigação.
O documento da PGR aponta que Torres deu aval à operação. O diretor da PRF na época, Silvinei Vasques, também esteve envolvido na organização da tentativa de manter Bolsonaro no poder.
Os três são acusados pela PGR de crimes de organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio público tombado.
A PF analisou planilhas que continham números de votos recebidos por candidatos no primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 em cada cidade brasileira, dados que foram usados por Marília para criar o plano de ação no segundo turno.