Última atualização 26/01/2023 | 10:13
O Cerrado está ocupando cada vez menos espaço no território brasileiro. As ameaças ao bioma resultaram no desmatamento quase em dobro da vegetação nativa em dezembro de 2022 comparado ao mesmo período do ano anterior. Foram 83.998 hectares derrubados, alta de 89% sobre os 44.486 hectares desmatados no mesmo mês em 2021.
Os municípios que aparecem no topo da lista do acumulado anual de 2022 são Balsas, no Maranhão, São Desidério, na Bahia, e Alto Parnaíba, no Tocantins. Os três ficam em uma região chamada Matopiba – um anagrama para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O solo desses estados é visado por integrarem a nova fronteira agrícola que está sendo aberta dentro do cerrado.
“Grande parte da soja brasileira é produzida no Cerrado, por exemplo. Ao utilizar a caracterização de floresta da FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura], mais de 74% da área de vegetação nativa do bioma estaria desprotegida pela legislação europeia, justamente onde ocorre grande parte do desmatamento: mais de 85% do total”, esclarece a a diretora de Ciência do (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e coordenadora do MapBiomas Fogo e da equipe do Cerrado no MapBiomas, Ane Alencar.
Ela se refere a propostas de legislações internacionais anti desmatamento que considerariam como áreas a serem protegidas apenas aquelas caracterizadas como florestas, o que excluiria outros tipos de vegetação nativa não florestal. A consequência seria a permissão de commodities nessas áreas. Por outro lado, o crescimento econômico é uma demanda necessária para acompanhar o aumento populacional global.
Os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (Cerrado), ferramenta de monitoramento do bioma desenvolvida pelo IPAM com a rede MapBiomas e com o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG ), da Universidade Federal de Goiás ( UFG) indicam ainda o perfil dos pontos desmatados. A maior parte da destruição no bioma ocorre em propriedades privadas. Em 2022, cerca de 80% da área desmatada está nesta categoria. O restante está em vazio fundiário (13,5%), assentamentos (4,5%) e áreas protegidas (3,6%).
Perspectiva
O ambientalista Gerson Neto avalia o assunto como complexo e aponta a falta de planejamento e de fiscalização como os maiores problemas. Ele aponta ter ocorrido o aumento do número de crimes ambientais de desmatamento e queimadas, que tiveram o encorajamento do governo anterior e o desmonte da fiscalização como estímulo, na opinião dele.
“Infelizmente, há muita pastagem degradada que pode ser convertida sem a abertura de novas terras. Mas como o desmatamento é antipático, aproveitaram o governo que encorajava para “passar a boiada”. A conversão de pastagens em lavouras não é uma coisa ruim. Acho natural o avanço da fronteira agrícola no Matopiba. se os desmatamentos obedecerem a lei e tiverem licença, não podemos proibir. A pecuária hoje se faz em áreas menores, ou confinado ou semi confinamento”, afirma.
Neto acredita em políticas públicas de preservação, controle da ocupação do solo, respeito às reservas legais. As sugestões dele são planejamento para um zoneamento ambiental do meio rural, estabelecimento de mais unidades de conservação, parques e Áreas de Proteção Ambiental para proteger especialmente as bacias de recarga dos grandes rios, a exemplo de Tocantins, Araguaia, São Francisco e Paraná. Outras perspectivas são a recuperação dos locais desmatados.