Estudo entregue ao governo indica que redução da jornada aumenta inflação
Levantamento foi encomendado por empresários do setor de supermercados e é
assinado por alguns dos principais economistas especializados no mundo do
trabalho
Empresários do setor supermercadista entregaram, ao governo, nesta quinta-feira,
um estudo mostrando que a PEC da redução da jornada de trabalho irá aumentar a
inflação.
O estudo intitulado “redução da jornada de trabalho por via legal: análise de
impactos na economia e efeitos sobre os supermercados” foi feito pela Associação
Brasileira de Supermercados (Abras), cujo presidente, João Galassi, participa da
reunião desta tarde, entre ministros do governo Lula e empresários para debater
medidas para reduzir a inflação de alimentos.
O PT apoia a PEC, mas o governo ainda avalia se vai encampar politicamente a proposta.
Com 86 páginas, o estudo é assinado por alguns dos principais economistas
especializados no mundo do trabalho, como José Pastore e Paulo Rabello.
Em um dos trechos, eles calculam que a interpretação literal, da PEC da redução
da jornada, aponta para uma carga de 32 horas semanais e, nesse cenário, haveria um
encarecimento do fator trabalho, que poderia chegar a 37,5%, considerando a
redução da horas trabalhadas sem a diminuição proporcional do salário.
“Um aumento da folha salarial tão elevado e sem contrapartida de ganhos de
produtividade afetará profundamente a vida econômica de muitas empresas, o que
pode determinar, até mesmo, a sua insolvência, falência e correspondente
dispensa de pessoal. Nos poucos casos em que a nova equação se torne viável, há
que se esperar uma transferência do aumento de custo do trabalho para os preços
de bens e serviços com a aceleração da inflação”, diz o estudo.
Em outro momento, ressalta que “empresas que não conseguem absorver o aumento
dos custos – estas serão a maioria – tratarão de repassá-los ao consumidor
final, especialmente em setores como varejo e serviços”.
“Esse repasse pressionará, inevitavelmente, a inflação, reduzindo o poder de
compra da população e gerando efeitos redistributivos regressivos”, reforça o
texto.
Eles mencionam ainda aumento de custos com a rotatividade de mão-de-obra, como
processos de seleção, admissão, treinamento e desligamento dos empregados.
“Trata-se de dispêndios referentes aos custosos e seriam dispêndios inevitáveis
para as empresas, que desejassem manter os atuais níveis de qualidade de
atendimento dos seus clientes. Todavia, pelo volume de recursos estimados, tais
dispêndios são inviáveis. Mesmo que, hipoteticamente, assumidos, eles forçariam
um repasse do total de acréscimo de custo aos consumidores pela via dos preços –
o que geraria uma inflação intolerável”, destaca.