Por Taissa Gracik
A Operação Vendilhões, que foi deflagrada pelo Ministério Público e investiga um suposto esquema criminoso nas contas da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), gerou repercussões na cidade de Trindade, que se tornou comumente conhecida como Capital da Fé. A Basílica da cidade, que há alguns anos se tornou referência nacional e internacional para fiéis e para outras igrejas, encontra-se em um momento de abalo.
O Padre Robson de Oliveira, criador da Afipe, foi um dos responsáveis pela popularização ainda maior da cidade e, agora, é um dos responsáveis pelo estremecimento dela. Investigado na operação, o padre ganhou os holofotes do mundo todo, inclusive do Vaticano. Segundo as apurações, o padre desviou dinheiro advindo das doações de fiéis, além de cometer os crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro, apropriação indébita, falsificação de documentos e sonegação fiscal.
Mas, na cidade em que tudo ocorreu, a agitação é ainda maior. Com os supostos envolvimentos de empresários e figuras públicas de Trindade, a população se preocupa com o que pode acontecer com a economia do local. Segundo relatos de alguns moradores, já existiam rumores de empresas de fachada na cidade muito antes do caso vir à público.
“Nós estamos preocupados porque grande parte da cidade sobrevive da renda que o turismo religioso traz. Esse ano não teve a Festa de Trindade, o que já apertou a situação, e agora com tudo isso acontecendo… Na verdade a gente sempre soube, sempre circulavam boatos dessas empresas que tinham ‘rolo’ com o padre. Agora eu não sei se as empresas vão quebrar ou se as pessoas ainda vão querer vir pra Trindade”, relatou o comerciante Sebastião da Cruz.
A tradicional Festa do Divino Pai Eterno, que também é conhecida como Festa de Trindade, acontece anualmente no final de junho. Neste ano, a romaria foi cancelada por conta da pandemia do novo coronavírus. A preocupação dos comerciantes é que o turismo, que já sofreu uma queda por conta das restrições de aglomeração, não volte ao normal, mesmo após a conclusão das investigações.
De acordo a moradora Janice Lucia, algumas pessoas que faziam doações para a Afipe pararam de fazer, desde que o escândalo veio à público. “Todo mês chega um boleto da Afipe na minha casa. Agora que eu sei que o dinheiro não vai para a igreja, não deposito mais. Minha irmã, que mora em Santa Catarina, já me ligou falando que não doa mais, também”, contou a moradora.
Ainda segundo ela, boatos sobre casos amorosos do padre sempre estiveram presentes na cidade. “Isso aí nunca foi segredo para ninguém. As conversas surgiam, mas logo eram abafadas. O padre tem muito poder aqui, então eles conseguiam fingir que nada acontecia”, afirmou Janice.
O pároco está afastado da direção da Afipe e teve o direito de celebrar missas suspenso temporariamente. As investigações envolvendo a Operação Vendilhões estão em andamento, conduzidas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Mandados de busca e apreensão já foram cumpridos na casa do padre e no escritório da associação. Diversas transações financeiras também estão sendo apuradas, além da compra de imóveis de luxo e investimentos em mineração.
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