Última atualização 24/01/2023 | 17:54
A rede pública de saúde em Goiânia foi a que mais teve registro de internação de bebês com menos de um ano por desnutrição entre as capitais brasileiras. As estatísticas referentes a 2022 apontam ainda que Goiás ficou em 7º no ranking nacional e a região Centro-Oeste em 3º, de acordo com um estudo do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), realizado com dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), do Ministério da Saúde.
Os pequenos goianienses acometidos pelo problema no ano passado que necessitam de internação chegaram a 35. Em todo o estado, o total de bebês nessas condições foram de 123. No Centro-Oeste, o estudo identificou 777. O Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 2.754 internações de bebês menores de um ano por desnutrição, sequelas da desnutrição e deficiências nutricionais, o que representa sete por dia em todo o país, em média. Dentre estados e capitais, Bahia e Salvador concentraram o maior número de hospitalizações: respectivamente 480 e 159. Por outro lado, Amapá e Cuiabá tiveram menos casos com 9 e 1, respectivamente.
“No cenário atual, embora o sistema registre uma pequena redução no número de internações de bebês menores de 1 ano por desnutrição no país de 2021 para 2022, de 2.946 para 2.754 hospitalizações, podemos considerar que a tendência se mantém – o que é preocupante. Enquanto o Nordeste registrou 1.175 hospitalizações em 2022, o Norte realizou 328 internações pelas mesmas causas no ano passado”, aponta o coordenador do Observa Infância, Cristiano Boccolini.
Desde 2016, o índice de hospitalização por esse motivo nesta faixa etária vem subindo no Brasil. A pior marca ocorreu em 2021, quando houve acréscimo de 51% em relação a 2011. A tendência é diferente da observada no número de mortes e na taxa de mortalidade entre os bebês já que houve redução constante desde 2009.
Internação de bebês com menos de um ano de idade por desnutrição
Por capital | Por estado | Por Região |
Salvador (159) | Bahia (480) | Nordeste (1.175) |
Brasília (65) | Maranhão (280) | Centro-Oeste (777) |
São Paulo (43) | São Paulo (223) | Sudeste (617) |
Goiânia (35) | Minas Gerais (205) | Sul (376) |
São Luís (29) | Pará (182) | Norte (328) |
Fortaleza (27) | Rio Grande do Sul (159) | |
Rio de Janeiro (23) | Goiás (123) |
Fonte: Observa Infância, com dados do SIH
Causas diversas
A desnutrição ocorre por questões nutricionais ou metabólicas da mãe, como pressão alta, e ainda problemas na placenta. Isso favorece o nascimento de crianças com baixo peso. É uma situação menos comum atualmente, comparada aos anos 1990. A incidência maior nas últimas décadas tem sido obesidade e deficiência de micronutrientes nem sempre perceptíveis pela exclusiva avaliação de peso”, esclarece o pediatra Ronaldo Moura.
Segundo o especialista, a suspensão do acompanhamento de mães e crianças durante a pandemia também pode ter interferido nas estatísticas. Ele lembra que entre 2020 e 2021 a prioridade de atendimento era urgência e emergência para pessoas com suspeita de covid. Apesar disso, Ronaldo atrela a prática de hábitos saudáveis como um fator decisivo para evitar e tratar o problema nas gestantes e bebês. As consequências são crianças com maior risco de adoecimento, problemas no desenvolvimento neuropsicomotor e no aprendizado, o que no futuro pode afetar a inserção no mercado de trabalho.
“É importante reforçar políticas públicas sobre a importância de as pessoas terem alimentação saudável, com frutas e verduras. Uma das estratégias de incentivo seria a taxação menor desse tipo de alimento em relação aos industrializados e com baixo valor nutricional. Consultas de rotina fazem muita diferença, assim como orientação para as famílias. Um exemplo de como a falta disso interfere na sociedade é a queda acentuada da vacinação infantil”, detalha.