Última atualização 29/06/2022 | 17:30
Já imaginou ser diagnosticado com Covid e outras doenças ao mesmo tempo? A hipótese é assustadora e possível, apesar de improvável. O efeito do coronavírus no corpo humano ainda está sendo pesquisado por cientistas, mas eles já estudam casos semelhantes. Nos Estados Unidos, inclusive, o renomado infectologista pediátrico Thomas Murray afirma que tem verificado aumento de pacientes menores de idade nessa condição. Em torno do assunto, a população em geral cria mitos para tentar encontrar um padrão da doença.
Aqui no Brasil, os hospitais não registram tantos prontuários com dupla ou tripla infecção em adultos ou crianças. O infectologista Marcelo Daher afirma que não percebeu esse tipo de mudança no perfil das pessoas que buscam atendimento. Ele acredita que a impressão de algumas pessoas de gripes “mais agressivas” após o surgimento do coronavírus é um grande equívoco porque a questão, na verdade, seria a dificuldade em distinguir algumas doenças respiratórias.
“As infecções simultâneas podem ocorrer, mas não é muito comum. O que acontece é que as pessoas confundem resfriado comum com gripe ou Covid, que são bem mais intensas. Outra coisa é que existe uma tendência de a gente esquecer quão intensa foi a infecção anterior”, explica. Um caso raro foi noticiado pela imprensa em janeiro deste ano. Uma médica ginecologista de Botucatu, no interior paulista, foi diagnosticada com Covid, influenza e resfriado.
Daher esclarece que o enfrentamento do novo coronavírus pelo corpo não altera o funcionamento biológico a ponto de permitir a entrada de outros microorganismos. A existência do enfraquecimento do sistema imunológico é considerada muito complexa e questionável, na perspectiva dele, embora pondere que a memória imunológica existe e não é abalada permanentemente pela Covid. Ela serve como barreira biológica durante a exposição a determinados agentes ao induzir a criação de anticorpos de combate a agentes nocivos.
“O que pode ter acontecido é que a Covid causa um previsível enfraquecimento imunológico e as doenças vêm mais graves. Existe também o lado emocional que faz com que somatizemos mais os sintomas. De qualquer forma, esse novo contexto fez com que os serviços de vigilância e de epidemiologia fossem aprimorados para que a identificação de vírus ou bactérias seja mais rápida”, diz.
Quebra de expectativa
Na reportagem em que concedeu entrevista, o infectologista Murray destacou que o hospital onde atua notou mudanças no comportamento de alguns vírus. Segundo ele, crianças deram entrada na unidade infectadas por dois ou três vírus e houve notificações de alguns em épocas fora daquelas consideradas mais comuns. Marcelo diz que o motivo para esse cenário no Brasil está nas medidas de combate ao coronavírus adotadas pela maior parte da população no auge da pandemia.
“O período de isolamento serviu para diminuir a circulação de alguns vírus de transmissão pessoa a pessoa, com isso vimos menos infecções como gripe, meningite e até resfriados comuns”, lembra. O retorno às atividades presenciais após a vacinação contra Covid ajudou a alavancar índices de doenças menos habituais, como H3N2. Para manter a saúde em dia, a receita do especialista para alavancar a imunidade é conhecida: boa alimentação e atividade física.