O médico brasileiro Leonardo Riella, diretor de transplante renal do MGH, realizou o primeiro transplante de rim de um porco geneticamente modificado para um paciente humano vivo, nos Estados Unidos (EUA). O brasileiro comandou a cirurgia inédita no Hospital Geral de Massachusetts (MGH), em Boston.
Em um comunicado anunciado nesta quarta-feira, 21, o hospital afirma que o procedimento inédito foi bem-sucedido e é “um marco histórico no campo emergente do xenotransplante” , nome técnico do transplante de órgãos ou tecidos de uma espécie para outra.
O sucesso desse procedimento é um marco histórico na busca por novas fontes de doação de órgãos, em especial de rins, que tem uma demanda crescente. O rim é o órgão mais comum necessário para transplante, e estima-se que as taxas de doença renal em estágio terminal aumentem nos próximos anos. Atualmente no Brasil, 42.430 pessoas aguardam por um transplante. Destas, 39.161 aguardam por um rim.
De acordo com o comunicado do hospital, o paciente que recebeu o transplante foi um homem de 62 anos, que vive com uma doença renal em estágio avançado. A cirurgia aconteceu no último sábado ,16.
O procedimento foi realizado após o aval da FDA (Food and Drug Administration) — equivalente à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) nos Estados Unidos. A aprovação, sob o Protocolo de Acesso Expandido, é concedida a um único paciente ou grupo de pacientes com doenças ou condições graves e potencialmente fatais para obter acesso a tratamentos experimentais quando não houver outras opções de tratamento ou terapias.
Esse não foi o primeiro xenotransplante, nome dado ao transplante de órgãos ou tecidos de uma espécie para outra, do rim de um suíno para um humano. No entanto, as cirurgias anteriores foram feitas em pacientes com morte cerebral.
O rim do porco doador foi fornecido pela eGenesis de Cambridge, Massachusetts. O animal passou por 69 edições genômicas usando a tecnologia CRISPR-Cas9 para remover genes suínos prejudiciais e adicionar certos genes humanos para melhorar sua compatibilidade com humanos.
Os cientistas inativam retrovírus presentes no doador suíno para eliminar qualquer risco de infecção em humanos. Nos últimos cinco anos, o MGH e a eGenesis conduziram extensas pesquisas na área de xenotransplante, tendo suas descobertas publicadas na revista científica Nature em 2023.