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O que muda no Brasil com a saída do ministro Paulo Guedes na economia

“O governo de Bolsonaro entra em uma ação de tudo ou nada: uma postura populista que pode trazer consequências graves para a saúde econômica do país e também do status político do presidente”, é o que afirma o cientista político e professor, Guilherme Carvalho. Para ele, o extrapolamento do teto dos gastos na economia com o remodelado Bolsa-Família, o Auxílio Brasil, significa que qualquer base de equilíbrio fiscal que pudesse ter dentro do governo atual, foi quebrada.

Esse desgaste é sentido pelo Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes. Há blogs de notícias política que já anunciam sua saída da pasta. As manobras feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para bancar o benefício não agradou o economista. Além disso, Guedes está isolado no governo, já que dentro das suas escolhas de secretariado, apenas um permanece desde o início. A debandada é composta pelo secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, a secretária especial adjunta do Tesouro e Orçamento, Gildenora Dantas e o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Araujo. Sobrou apenas Carlos da Costa, Secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade.

A equipe de Guedes era considerada o time perfeito para os liberalistas, mas agora, de acordo com Guilherme, as exonerações demonstram um rompimento com a base liberal e colocam em risco a relação com o mercado. Ele afirma ainda que é necessário que haja no país políticas públicas como o Auxílio-Brasil, mas o remodelamento está sendo feito de forma errada “está sendo passado uma régua geral, criou uma série de confusões no cadastro e isso pode vir a facilitar fraudes”, diz. O programa é direcionado para famílias de baixa renda e quase 20 países já adaptaram a ideia, como Chile, México, Indonésia, África do Sul, Turquia e Marrocos.

O cientista avalia que as consequências podem ser danosas ao país, gerando uma alta inflação e colocar o Brasil em um processo de recessão e forte crise econômica, com a queda da produção interna, diminuição do consumo e aumento do desemprego. Do ponto de vista político, é um “tudo ou nada”. Guilherme afirma que a gestão de Bolsonaro, “embora adote uma postura de que não liga para pesquisa, que o importante é a rua e as manifestações, o governo está receoso”, diz. Ele ressalta que a atitude do presidente coloca em risco o status jurídico enquanto candidato para 2022 “se o governo, por causa do orçamento desse financiamento, de fato, vier a quebrar a regra fiscal e for considerado que cometeu algum tipo de irresponsabilidade administrativa para viabilizar uma política eleitoral, Bolsonaro pode perder seus direitos políticos, caso não seja eleito”.

Ex-ministro da economia considera um cenário grave

O DE entrou em contato com a assessoria do ex-ministro da economia, Henrique Meirelles e foi informado que o posicionamento do economista estava em sua conta do Twitter. Meirelles avalia que a decisão do presidente é grave “O teto de gastos tem uma vantagem muito grande: obriga a definição de prioridades. O que de fato é mais importante a ser gasto”, diz. Ele sintetiza que, ao não ter prioridades, os gastos se concentram em projetos eleitoreiros e gera impactos graves, como a debandada do secretariado, impactando, assim, na credibilidade do país “A saída dos secretários do Ministério da Economia é um símbolo muito forte do quanto a conduta da administração federal tem prejudicado a credibilidade da política econômica”.

Em outros comentários, ele afirma que “o governo federal quer gastar bilhões de reais em medidas eleitoreiras, de olho em 2022”. Sobre a saída dos secretários, ele se preocupa “Espero que possa haver uma reversão desse quadro. Espero que a saída de tantos membros da equipe econômica possa chamar a atenção de algumas pessoas. O fato concreto é que os mercados estão dando sinal muito claro que este rumo é inaceitável na administração pública”, twitta.

Câmara Federal está atenta

O deputado federal Delegado Waldir (PSL) concorda que é um erro furar o teto dos gastos “até hoje o Brasil caminhava com responsabilidade fiscal, mas extrapolar o teto dos gastos não é a melhor decisão, e estamos vendo isso de perto, estourou o valor do dólar e a bolsa caiu. Para a economia, isso é péssimo”. Ele diz que há outras maneiras de arcar com o auxílio de R$400 “se você quer trazer o beneficio, você poderia pensar em cortes de privilégios, teto salarial do funcionalismo publico, redução de mordomias no judiciário, se não for assim, a inflação dispara”, afirma.

Questionado sobre as políticas públicas necessárias para o país, ele diz que é preciso ensinar a pescar e não apenas dar o peixe “as pessoas que recebem o auxílio precisam ser vinculadas a um treinamento, uma espécie de compensação. Se elas recebem, elas poderiam prestar serviços comunitários em creches, hospitais… Não pode dar apenas por dar (o benefício)”, sinaliza.