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“Os 12 Grandes”: por que a ideia enfraquece a análise do futebol nacional

Última atualização 08/10/2021 | 09:43

Em nosso cenário futebolístico, existe um termo para denominar os ditos maiores clubes do Brasil: “os 12 grandes”. Os principais times de futebol do país são dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Desse jeito fica clara a centralização do futebol brasileiro nas Regiões Sul e Sudeste.

Desta forma, quando pessoas desses estados se arriscam a palpitar a respeito de outros centros esportivos do futebol em território nacional, frequentemente falta fundamento. Como explicar e corrigir essa tendência?

Análise

Em primeiro lugar, é preciso pensar no porquê disso tudo. No século XX, a influência de rádios e televisão era a mais esmagadora das mídias, muito antes do surgimento da internet. Em regiões como o Nordeste, o Norte e o Centro-Oeste, sempre houve uma incidência bem maior de partidas do Sul e Sudeste, devido à modernização tecnológica dessas últimas, fazendo com que houvesse uma aproximação mais forte dos clubes de lá.

A consequência disso foi um aumento de torcedores e receitas, com uma popularidade explosiva que rendeu títulos para equipes como Flamengo, Corinthians e Palmeiras. A força do futebol brasileiro passou a residir em apenas quatro estados, com alguns poucos fazendo frente – mas não por muito tempo.

Com isso, normalizou-se a noção de que os únicos clubes “que importam” realmente são os 12 grandes. Em programas esportivos nacionais de televisão, dificilmente um time menor entrará em pauta; quando isso acontece, normalmente é por poucos minutos.

Por exemplo: não importa se o Fortaleza é o atual 4º colocado do Campeonato Brasileiro de 2021. Mesmo em 13º lugar, o São Paulo tende a gerar bem mais engajamento. É uma via de mão dupla: o Jornalismo desenvolve os temas que vão gerar uma resposta mais massiva do público. No entanto, isso cria uma problemática que torna a análise de conteúdos do gênero bastante rasas.

Análises sem fundamentos

Vamos pegar como exemplo a campanha do Goiás no Campeonato Goiano de 2019. O esmeraldino traçava uma excelente trajetória no torneio, chegando à decisão para enfrentar o Atlético em dois jogos. Mesmo com o bom desempenho do Goiás, o Dragão venceu ambos jogos, por placares de 3×0 e 1×0, e o Verdão optou por demitir o seu técnico Maurício Barbieri.

Apesar da perda do título estadual, os números do treinador eram positivos: 73% de aproveitamento, com 14 vitórias, dois empates e quatro derrotas. Após a queda do comandante alviverde às vésperas do início do Campeonato Brasileiro, diversas análises foram postadas por jornalistas de todo o País, criticando a diretoria do Goiás pela decisão tomada.

O problema que as análises tendem a cair no senso comum, pois partem de pressupostos que nem sempre se aplicam. A argumentação mais frequente era a de que era um absurdo a cultura brasileira de demitir treinadores ao primeiro sinal de fracasso. Porém, às vezes os números não traduzem totalmente certas situações.

O Goiás de Maurício Barbieri já oscilava em suas atuações, como na eliminação perante o CRB na Copa do Brasil naquele ano. As análises esportivas, no entanto, não discutiam os motivos que levaram à demissão do profissional, apenas olhavam os números e criticavam sem apresentar fundamentos mais claros.

Soberba e suas ramificações

Algo bem parecido aconteceu nos últimos dias, e com um certo toque de elitismo. O Atlético-GO decidiu demitir o seu técnico Eduardo Barroca, que deixou o clube após sete vitórias, 11 empates e sete derrotas. Um jornalista fez a sua “análise” a respeito da demissão e criticou a diretoria rubro-negra, por achar que o time goiano não precisava ter grandes objetivos na temporada, como se tivesse de se contentar com uma mera permanência na Série A.

Isso é uma clara ramificação na ideia de que apenas os 12 grandes teriam o direito de disputar um título ou buscar voos maiores dentro de uma competição. O Atlético Goianiense sonhar com uma vaga na Libertadores seria um absurdo sem tamanho. Porém, o time não estava rendendo. E a decisão foi tomada a fim de que o rendimento melhorasse.

O recado que fica é de que é necessário descentralizar o futebol. Os veículos de comunicação precisam se especializar não apenas no futebol do Eixo Sul-Sudeste, mas também falar sobre o Nordeste, o Norte e o Centro-Oeste. O Brasil é um país muito grande para somente 12 clubes reinarem soberanos.

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