Última atualização 10/03/2022 | 07:55
Um esquema grave, de alto alcance bélico e que pode ter consequências inimagináveis no Estado de Goiás.
Esses são apenas alguns dos ingredientes de uma denúncia bombástica revelada pelo psicólogo Romylton Alessandro da Silva Costa, que faz parte do quadro de profissionais responsáveis por avaliar a aptidão de um cidadão a ter a posse de uma arma de fogo.
O crime, conforme Romylton, envolve um núcleo de psicólogos que prestam serviço à Polícia Federal (PF) e ao menos quatro lojas de armas de Goiânia que fraudam a avaliação psicológica para que o cliente seja aprovado.
O monopólio, como é chamada a prática pelo psicólogo, que também é major da reserva do exército, acontece quando o próprio despachante de armas cobra a avaliação psicológica realizada pelo (a) psicólogo (a), além do seu próprio serviço.
Segundo ele, o cliente paga uma quantia de no mínimo R$ 1,5 mil para montar o processo conforme a demanda solicitada, porém na cifra já está inclusa o valor da avaliação psicológica do profissional – que recebe em torno de R$ 70 a R$ 100 por consulta. O preço, inclusive, é abaixo do cobrado por outros profissionais credenciados que é a partir de R$330,73, conforme o denunciante.
“As instituições contratam psicólogos de sua preferência que já fazem parte do esquema para fazerem as avaliações por um custo bem abaixo da tabela referencial. Certamente essa avaliação acontece sem os devidos critérios avaliativos necessários, uma vez que esses processos são feitos em atacado, devido ao interesse econômico de ambas as partes”, disse.
Esquema antigo
Romylton começou a observar a ação em 2015, ano em que iniciou aulas para agentes da segurança pública. Porém, ele acredita que essa prática é ainda mais antiga. Para o psicólogo, o crime representa riscos incalculáveis para a sociedade, já que incontáveis pessoas podem ter a posse de arma sem o devido laudo psicológico adequado.
“O psicólogo e o despachante não podem ter vínculo. O serviço é pago direto para o psicólogo, não para o despachante. Acontece que o despachante executa esse trabalho com alguns psicólogos, o deixando refém do esquema, uma vez que os donos dessas lojas que tomam que esquematizam tudo. O psicólogo é um mero garotinho”, concluiu.
O Diário do Estado procurou o Conselho Regional de Psicologia (CRP), a fim de saber os profissionais envolvidos no esquema podem ser punidos. Entretanto, o órgão informou que aguarda o recebimento formal da denúncia para se pronunciar. A PF também foi procurada pelo DE, mas também não se pronunciou sobre o acorrido até a publicação desta matéria.
Aumento
Vale lembrar que a quantidade de licenças para usar armas no Brasil cresceu 325% nos últimos três anos, segundo o instituto Sou da Paz e Igarapé. Para ter uma arma hoje, de acordo com a PF, é preciso ter idade mínima de vinte e cinco anos; comprovar necessidade efetiva de arma de fogo; não ter antecedentes criminais; possuir lugar seguro para armazenamento das armas de fogo; ter ocupação lícita e residência fixa; comprovar capacidade psicológica e comprovar capacidade técnica.