Passou em um supermercado e notou queda nos preços de frutas e verduras no varejo? A percepção faz todo o sentido por uma série de motivos. Atualmente, apenas 9 dos 22 principais produtos comercializados na Central Estadual de Abastecimento (Ceasa) estão em alta e os demais em baixa ou estáveis. O reflexo são pessoas comprando um pouco mais de hortifruti comparando ao início da pandemia.
Na lista de itens mais baratos ou estáveis estão repolho, abobrinha japonesa, chuchu, jiló, pepino colonião, pimentão, quiabo, tomate saladete, batatinha, cenoura, banana maçã, limão tahiti e abacaxi. De acordo com o gerente da divisão técnica da Ceasa, Josué Lopes, os “vilões” do momento são pepino comum e melancia.
A queda de preços em geral superou os 50%, de acordo com o presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Gilberto Soares. Ele afirma que a diferença é gritante, considerando os vegetais mais populares. O tomate que já chegou R$ 12,95 pode ser encontrado pode R$ 3,95, a vagem atingiu R$ 19,85 e agora menos de R$ 10 e a batata que bateu a marca de R$ 9,85 está R$ 4,95.
“Houve uma diminuição considerável. No começo do ano, aqueles preços muito altos estavam relacionados às chuvas intensas, mas agora estão até mais baratos do que antes disso. Importante destacar que a produção e colheita também entram nessa fórmula”, diz.
Os dados mais recentes do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) comprovam o cenário. O relatório aponta os produtos in natura como aqueles com maior queda de preço em junho deste ano. Apesar disso, Gilberto chama atenção para a alta de outros produtos ainda mais essenciais da cesta básica.
“A guerra da Ucrânia influenciou muitos itens, especialmente das commodities, como farinha de trigo”, destaca. Mesmo com valor elevado do óleo de soja, por exemplo, ele destaca que houve diminuição de 17% e o feijão encontrado por volta de R$ 9, baixou 20%.
Economia x Saúde
No caso da diarista Jardênia Silva, as refeições estão restritas ao básico. Ela mora em Senador Canedo com três dos seis filhos e enfrenta dificuldades para garantir uma alimentação saudável. As dificuldades financeiras comprometem a saúde já resultam em diagnósticos de alerta: ela está com pré-diabetes, resultado de consumo de ultraprocessados.
“Quando vou ao supermercado quando tenho um dinheirinho e compro exatamente o que dá, no caso, só o básico mesmo. Fruta e verdura eu não compro há muito tempo e eles gostam muito de banana…”, afirma ela, que teve de passar a considerar hortifruti como supérfluo.
O risco de deficiências nutricionais e surgimento de doenças crônicas como obesidade, hipertensão, diabetes e até depressão são os maiores problemas da redução da ingestão dos alimentos saudáveis. A nutricionista clínica funcional Hortência Guimarães frisa que os industrializados também pioram a microbiota intestinal, geram alergias e intolerâncias alimentares.
Ela sugere alternativas para quem tem dificuldades em melhorar a dieta, embora o ideal seja pelo menos cinco porções de frutas verduras e legumes, o equivalente a cerca de 400 gramas.
“Reduzir a compra de industrializados já ajuda demais na saúde, assim como tentar incluir três cores diferentes de verduras e legumes. Claro que frutas são importantes, mas em caso de dificuldade financeira, dê prioridade para verduras e legumes. Escolha uma folha verde escuro como couve ou outra que esteja mais em conta e outras duas cores como cenoura e beterraba e/ou abóbora, quiabo…”, ensina.
A dica de Josué é comprar no atacado na Ceasa em grupo e optar por produtos da época “de segunda” que podem sair pela metade do preço em relação aos primeiros da classificação e mantêm a qualidade.
Na ponta do lápis
Um estudo feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade de São Paulo (USP) monitorou mais de 240 itens entre 1994 e 2017. Os pesquisadores revelaram que os ultraprocessados se tornaram mais baratos até o ano de 2026.
Parte da explicação para os ultraprocessados serem mais baratos, consequentemente mais acessíveis é a possibilidade de reduzirem custos, a exemplo de transporte e marketing. Os produtores geralmente não recebem tantos incentivos governamentais para conseguirem concorrer no preço final.