O salário mínimo, hoje fixado em R$ 1.212, pode ter um acréscimo de 7,41%, caso o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) que foi enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional, seja aprovado. Ou seja, o salário mínimo pode passar a ser de R$ 1.302 a partir de 2023.
Porém, como nem tudo são flores, o reajuste do salário mínimo poderá gerar um aumento na inflação, fazendo com que o preço dos alimentos fiquem ainda mais caros. Com isso, mesmo que na prática o trabalhador ganhe mais, o valor ainda não será suficiente para suprir as necessidades básicas de uma família.
“Uma família de três ou quatro pessoas não vive somente com um salário de R$1.302. Para arcar com todas as despesas básicas do cotidiano, essa família passará por muitas restrições, além de depender de muita criatividade e de ajuda, como doação de roupas e morar em uma casa cedida. Esse valor é insuficiente para manter as despesas básicas com alimentação, moradia, água e energia elétrica.”, explicou a mestre em economia, Kallenya Lima.
Cesta básica ocupa 53% do salário
Já a doutora em economia, Adriana Pereira de Sousa, reforça que o valor é baixo para que uma família possa se manter, devido ao preço da cesta básica que já ultrapassa os R$ 640, em Goiás. Ou seja, mais de 50% do ganho mensal é apenas para alimentação. Por conta disso, é primordial que o chefe (a) tenha uma segunda ocupação ou uma espécie de bico.
“Para uma família viver durante um mês apenas com o salário mínimo é complicado. Atualmente, a cesta ocupa 53% do salário mínimo atual. Em média, sobra apenas 47% do salário para essa família gastar com outras coisas. Se a família morar na casa própria, ela tem o mínimo para se manter. Porém, se tiver uma criança em idade escolar, ela terá que estudar em uma escola pública”, disse.
Famílias enfrentam dificuldades
Vale lembrar que uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) divulgada em julho, revelou que o salário mínimo ideal para uma família de quatro pessoas viver no Brasil deveria ser de R$6.388,5. Uma realizada de bem distante para a maioria dos brasileiros, principalmente os que vivem com uma renda inferior a salário mínimo, como é o caso da diarista, Elisabeth Miguel, de 53 anos.
Viúva há mais de cinco anos, a mulher que mora com os sete filhos em Goiânia, vive com aproximadamente R$ 1 mil por mês, divididos entre o programa Bolsa Família (R$ 600) e diárias (que rendem cerca de R$ 400). A quantia, segundo Elisabeth, não é suficiente para manter a casa, que está há quatro anos sem energia elétrica devido ao acúmulo de dívidas que ultrapassam a bagatela de R$ 16 mil.
“Um dos meus filhos é diabético e por conta disso a vizinha me empresta uma tomada da casa dela, já que a insulina precisa ficar na geladeira. Ela também me arruma um arroz de vez em quando, quando eu tenho também dou para ela. A gente depende de doações, sendo que sempre ganho uma cesta da igreja. Muitas vezes eu já chorei, não é fácil ver um filho pedir uma coisa e não conseguir comprar. Aqui em casa mesmo é arroz e feijão, mas às vezes é só arroz branco. Meu filho mais novo, de 8 anos, não gosta, mas acaba comendo”, concluiu.