Regulamentação de aplicativos de transporte gera debate

O Ministério Público do Trabalho acionou a justiça para vínculo empregatício na última segunda-feira (08).

Para empresas, regulamentação será na verdade uma maneira de inviabilizar o transporte particular por aplicativo

O Senado Federal poderá votar amanhã (31), em regime de urgência, o Projeto de Lei Complementar 28/2017, que trata sobre a regulamentação de aplicativos de transporte individual pagos. A medida afeta empresas como Uber, 99 Pop e Cabify que há alguns anos prestam serviço de transporte particular no Brasil.

A premissa do projeto, que já teve o texto aprovado pela Câmara dos Deputados em abril deste ano, é que os serviços sigam uma série de exigências para poderem estar habilitados dentro do território nacional. Entre as exigências estão vistorias periódicas nos veículos; carros usarem placa vermelha; “Ficha Limpa” para os motoristas; adoção de placas vermelhas nos veículos e licença específica para o veículo rodar.

Se a proposta for aprovada, os municípios serão os responsáveis por regulamentar e fiscalizar o serviço, a cobrança dos tributos, a contratação de seguros para acidentes e danos e a inscrição do motorista como contribuinte do INSS.

Porém, para as empresas, a PLC é na verdade uma maneira de suspender os aplicativos no Brasil e acabar com o transporte particular de passageiros.

Em nota enviada aos usuários, a Uber diz que a PLC 28/2017 irá acabar com os aplicativos de mobilidade como o Uber. “Alguns senadores dizem que esse projeto é uma regulação. Mas, na verdade, esse projeto é uma proibição”, diz.

A empresa elenca outras exigências que os motoristas devem acompanhar para poderem continuar funcionando como: autoriza os municípios a proibirem os aplicativos quando quiserem; faz com que os motoristas parceiros precisem de uma autorização específica, que pode ou não ser concedida; todos os motoristas precisam ter veículos próprios (não se pode dividir com seus familiares ou alugar carros) e proíbe os veículos de circularem em cidades vizinhas, como em regiões metropolitanas.

Segundo a Uber, o novo projeto poderá afetar mais de 17 milhões de usuários e mais de 500 mil motoristas parceiros da Uber.

Já a Cabify, em nota, diz que “sem uma discussão ampla pelo governo” os brasileiros deixarão de ter a escolha do serviço oferecido pelos aplicativos de mobilidade. “A Cabify e outras empresas do setor são a favor da regulamentação. No total, mais de 825 mil assinaturas foram entregues no Senado para que haja um debate sobre este assunto”, afirma.

A empresa também diz que o projeto representa um retrocesso urbano e pede para que usuários compartilhem a informação com conhecidos e pressione os senadores a votarem contra o texto. Esta medida também é pedida pela Uber.

Campanha

A Uber lança nesta segunda-feira (30) uma campanha em rede nacional contra o Projeto de Lei e já lançou a campanha na internet pelo site www.leidoretrocesso.com. Outra página, intitulada retrocessourbarno.com.br também pede apoio dos usuários contra a PLC e uma contagem regressiva par ao horário da votação do texto que ocorre amanhã.

As empresas também mobilizam usuários por meio de redes sociais como Facebook e Twitter, com hasthags e pedidos para que comuniquem aos senadores dos estados específicos o pedido de votar contra o projeto.

Consulta

Na página do senado, uma consulta pública mostra que a maioria da população é contra a regulamentação da forma como está no PLC. Até o final desta reportagem, 199.021 pessoas não apoiavam o projeto e 42.772 aprovam.

O senador Roberto Requião (PMDB/PR) realizou enquete pelo Twitter perguntando se os seguidores eram a favor dos serviços da Uber: 89% responderam que sim e 11% deram resposta negativa. Após algumas horas, o parlamentar apagou enquete de seu perfil.

O relator do projeto no Senado é Pedro Chaves (PSC-MS).

Goiânia

Em Goiânia estão disponíveis os serviços dos aplicativos Uber e 99 POP. No início deste mês, o prefeito Iris Rezende (PMDB) assinou decreto que estabeleceu normas para a exploração da dos aplicativos de transporte particular.

Pelo texto municipal, os aplicativos devem se cadastrar junto à administração municipal que deve dar uma autorização prévia. É exigida também a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) definitiva, não ter antecedentes criminais, possuir endereço fixo e comprovação de contratação de seguro para os passageiros.

Para os veículos, as regras municipais em Goiânia é que eles sejam identificados e ter, no máximo, oito anos de fabricação, além de possuírem certificado de registro e licenciamento na cidade.

Além disso, como contrapartida pela utilização da estrutura municipal, a empresa deve recolher aos cofres públicos o valor de R$ 0,10 por quilômetro rodado.

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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