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Setembro Amarelo: como ser apoio efetivo para quem se encontra em depressão

Última atualização 01/09/2023 | 09:14

Começa nesta sexta-feira, 1º, a campanha Setembro Amarelo que, desde 2013, visa desmistificar a depressão, difundindo na sociedade que a solução é o tratamento com profissionais devidamente habilitados. Criada por Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) para ampliar o Dia do Combate ao Suicídio, em 10 de setembro, a iniciativa tem ganhado maior destaque na imprensa e na sociedade a cada ano.

A questão social da depressão

A doutora em Psicologia Juliana Hanuum contou ao Diário do Estado (DE) que campanhas como esta são significativas por trazerem um alerta. “Por mais que pareça comum à sociedade, a temática sobre o Setembro Amarelo não é. Ainda vivemos tempos em que as pessoas não têm um conhecimento mais formativo sobre o que vem a ser uma depressão grave, sobre o que vem a ser um suicídio. Então, são muito importantes essas campanhas que as mídias estão fazendo”, argumenta.

Hanuum diz que a depressão é uma questão social. “As pessoas estão sentindo um pouco mais de liberdade para poder falar sobre sua saúde mental e quais são os atravessamentos que muitos estão passando diante de um diagnóstico de depressão”, explica.

Os conceitos sobre depressão

De acordo com o livro A História da Melancolia (2016), do médico e professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FMUSP) da Universidade de São Paulo, Táki Athanássios Cordás, a percepção sobre transtornos mentais sofreu alterações ao longo da história da humanidade, sendo que o primeiro conceito que surgiu foi de “loucura”, na antiguidade, associado a superstições e punições divinas.

Táki Athanássios explica, em sua livro, que a primeira separação entre transtornos mentais e as superstições aconteceu pela Teoria dos Humores, de Hipócrates, que entendeu as transtornos mentais como resultado de um desequilíbrio entre os humores: bile, fleuma, sangue e bile negra, correspondentes, respectivamente, a coléricos, fleumáticos, sanguíneos e melancólicos.

O termo “neurose” foi empregado, pela primeira vez, pelo médico William Cullen, no período do Iluminismo, e a melancolia passou a ser entendida como uma alteração da função nervosa. Já o termo “depressão” surgiu apenas no século XIX, com um sentido mais próximo do entendemos hoje.

Entretanto, somente em 1952 que as transtornos mentais foram uniformizadas pela Associação Americana de Psiquiatria, recebendo tratamentos específicos. Portanto, em termos históricos, o tratamento de transtornos mentais como depressão está em desenvolvimento há pouco tempo e, da mesma forma, a quebra de paradigmas e preconceitos.

Relatório de suicídios

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou o relatório “Suicide worldwide”, que aponta um suicídio a cada 100 mortes no período de um ano, mais do que HIV, malária, câncer de mama ou mesmo guerras e homicídios. O referido relatório apontou que o ano de 2019 registrou mais de 700 mil pessoas mortas por suicídio.

Juliana Hanuum explica que a divulgação pela mídia sobre o combate ao suicídio por meio de campanha como a do Setembro Amarelo é significativa, pois leva para a sociedade uma informação sobre questões que acontecem em dentro de um universo micro, que são as casas das pessoas. A psicóloga orienta também sobre como proceder para ajudar alguém que sofre de depressão.

“Quando percebemos que alguém está em estado grave de depressão, a primeira coisa que temos que fazer é verificar se essa pessoa precisa de um acompanhamento multidisciplinar. Claro que uma pessoa em depressão não dá conta, porque ela já está se esforçando muito para se manter viva e, dentro de uma sociedade capitalista e de uma sociedade totalmente frenética, nós não sabemos lidar com essa questão”, explica.

A doutora em Psicologia orienta que pessoas ao redor de alguém com depressão devem formar uma rede de apoio que a leve ao médico, organize horário das medicações e que pergunte sobre como ela está e como gostaria que o ambiente estivesse diante dela.

“Não adianta tentar tirar essa pessoa ali com “acorde!”, “vamos ser feliz”. Ela não está fazendo isso porque ela quer. Pelo contrário, ela quer viver. Tanto é que ela acorda no outro dia, mas é uma questão sistêmica e, também, é uma questão emocional que demanda tempo e tratamento adequado para os estados graves de depressão”, finaliza.