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Tráfico de drogas e armas corre solto nas plataformas digitais

Última atualização 03/07/2022 | 08:19

O tráfico interestadual e internacional encontrou na Internet um meio eficaz para desovar seus produtos ilícitos. As plataformas digitais, que, em tese, servem para aproximar as pessoas e melhorar a comunicação global, agora são usadas por traficantes de drogas e armas. Entorpecentes como a maconha, LSD, skank, cocaína, entre tantos outros, são vendidos e anunciados aos montes em grupos de WhatsApp e Telegram, numa espécie de cracolândia cibernética.

No espaço, que reúne traficantes, usuários de drogas e criminosos faccionados, inclusive, do Primeiro Comando da Capital (PCC), tudo é ‘legalizado’, desde os anúncios das drogas, que variam de acordo com qualidade e quantidade, até a venda de armamento pesado, como granadas, pistolas, revólveres e até fuzis de uso restrito das forças armadas.

É isso mesmo. A velha ‘boca de fumo’ tem perdido largamente o espaço para o comércio virtual de entorpecentes, no qual, drogas de todos os tipos, principalmente ecstasy e maconha, são enviados para todo o Brasil. Os produtos são rastreados pelos próprios vendedores e compradores, desde o momento da partida até a chegado ao destino final.

Organizados e com tabelas de preços, alguns ‘comerciantes’ anunciam o produto com o frete por conta do comprador. Outros não cobram a entrega, realizada pelos Correios ou diretamente em mãos. O quilo da maconha, uma das drogas mais comuns no país, é vendido em Goiás por membros do PCC a R$ 8 mil. O peixe, como é chamada a cocaína, por outro lado, é comercializada pela facção a R$ 14 mil o kg. Eles justificam o preço:

“Tá ligado, vead*? A gente corre com os cara do Paraguai, ladrão. Nós temos uns parça lá, saca? Mas nós tem que ter o mínimo de confiança. Coloca a gaso que a gente cola ai na sua quebrada, eu e o meu parceiro, demoro? Estamos com quatro carro parado de mercadoria aqui em Rio Verde. Buscamos 25 quilos de maconha e 18 de pó esses dias, mas vamos buscar mais essa semana, vead*. Aqui é PCC, nós corre com PCC, pode crê!”, explica, por telefone, o traficante.

 

Na conversa, ele ainda se refere a uma facção rival e aos contatos que garantem o suposto sucesso dos negócios. “CV (Comando Vermelho) não tem vez não. Vamos fechar a parceria, mano. Pode ficar tranquilo. Os policia faz nossa segurança, mas nós tem que dar R$ 50 mil pra eles”, disse um membro do grupo, se referindo a agentes da Polícia Federal (PF), que estariam envolvidos com o narcotráfico.

Como foi a suposta negociação

Durante negociação, o repórter que se passou por um traficante goiano em busca de fornecedores e sócios (parças), chegou a negociar com o membro da facção, além de outros vendedores de pelo menos três cidades: Goiânia, Rio Verde e Anápolis. Ao contrário dos membros da maior e mais perigosa facção do país, os outros vendedores perguntaram como estava o ‘corre’, gíria usada para saber a movimentação do tráfico na região.

Ao ser questionado, o repórter disse que estava fraco e que buscava novas alianças. Em resposta, todos os traficantes responderam da mesma forma: “quer pegar uma peça? A vista é um preço, mas no prazo de até 20 dias é mais caro. A gente racha os lucros meio a meio. Me manda o endereço que já vou mandar levar hoje. Vem com o PIX, bebê”, brincou um dos anunciantes.

Porém, ao negar a parceria, alguns criminosos não gostaram da resposta. Segundo eles, o repórter está de ‘pilandragem’ e só ‘fala’ por não pegar a droga ou topar uma viagem para o Paraguai, um dos principais destinos do PCC. Já outros, se colocaram à disposição para futuras negociações.

“Fechou então, parceiro. Precisando dos quilos é só dar um salve que eu mando descer aí, beleza? Só paga a gasolina”, disse um dos membros da facção de origem paulista.

Drogas e armas são anunciadas como se fossem mercadorias licítas. (Foto: Pedro Moura)

Combate ao tráfico e à corrupção

A migração do tráfico de drogas e armas para o espaço cibernetico tem dificultado a ação da polícia, mas não a impedido, conforme explica o delegado Rony Loureiro. Para o policial, as bocas de fumo não deixaram de existir, mas, o tráfico evoluiu e ultrapassou fronteiras, tanto terrestres, quanto virtuais, se consolidando em ambos os lados.
Ele conta que a venda de drogas, seja nacional ou internacional, e de armas, juntas, podem render condenação de até 56 anos de prisão.

Porém, Rony afirma que esse tipo de crime é praticado por facções criminosas, como o PCC, com quem o repórter negociou. Neste caso, a pena pode ser ainda maior, tendo acréscimo de mais três anos por associação criminosa.

Rony conta que o combate aos crimes de tráfico e corrupção são realizados pelos serviços de inteligência de corporações como PC, PF, PRF e PM, além de órgaõs como o Ministério Público (MP). Em Goiás, a principal instituição de combate a esse tipo de crime é a Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc). Outras delegacias, como o Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), também atuam nesta área, visto que o tráfico é ‘recheado’ de homicídios, normalmente, violentos.

“Seria bastante ingénuo da minha parte se eu dissesse que não existe tentativa de propina para policias. Esses lobos disfarçados de ovelhas existem e são um câncer. Eles precisam ser punidos. Para combater esse tipo de crime de corrupção envolvendo as forças armadas, existe fiscalização de toda parte e corporações. Inclusive de órgaõs, como o Ministério Público. Infelizmente, desvios acontecem em todas as profissões, mas estamos aqui para combatê-las”, explicou.

Dialogo com o traficante:

Membro PCC: Forte abraço meu mano.

Repórter: Forte abraço, monstro.

Membro PCC: Tá precisando de que, vead*?

Repórter: Corre tá fraco aqui, estou buscando fornecedor. Estou precisando da verdinha prensada, do peixe, LSD, skank e bala.

Membro PCC: Pode crê que está tendo, porr*. Nós é o crime, cusã*.

Repórter: É nós, vead*. To querendo correr com vocês, fecha uma parceria. Pode crê?

Membro PCC: Demoro mano velho. Coliga nós. Estamos com quatro carros de mercadoria parados aqui. É lá do Paraguaia. Coisa responsa, pura. Aquelas 99%, tá ligado?

Repórter: Boto fé demais meu parceiro. Fé em Deus que vai dar certo, caralh*. Vocês fecha com quem?

Membro PCC: Aqui é Primeiro Comando da Capital, vead*. PCC, tá ligado? Nós não corre com CV (Comando Vermelho) não, pode crê?

Repórter: Fechou, monstro.

Membro PCC: Coloca a gaso que nós cola ai em você, pai. Tem que ter o mínimo de confiança, tá ligado, cusã*? Nos já leva um quilo da prensada pra você, vead*.

Grupos de venda de drogas inundam as plataformas digitais. (Foto: Pedro Moura)