Goiana viaja o mundo de bicicleta, explorando culturas e vencendo desafios

Larissa Cantarelli nasceu e cresceu em Goiânia. Na cidade, formou-se em Design de Moda e mudou de vida quando mudou-se para Pirenópolis para administrar uma Guest House (acomodações que oferecem hospedagem de baixo custo para viajantes). Apesar disso, a verdadeira mudança ainda estava por vir.

Hoje, Larissa é uma cicloviajante, ou seja, vive viajando o mundo na companhia de sua bicicleta. Na estrada desde 9 de abril de 2019, já passou por 15 países (Portugal, Espanha, França, Suíça, Itália, Croácia, Montenegro, Albânia, Macedônia, Bulgária, Turquia, Egito, Israel, Palestina e Kosovo), com mais de 10 mil quilômetros percorridos.

Em sua companhia, a bicicleta, é claro, o celular e os aplicativos que lhe ajudam a encontrar rotas, parceiros, trabalhos voluntários e lugares para se acomodar, além de vários outros viajantes que conhece em sua jornada.

Planejamento

Apaixonada por pedalar desde os 15 anos, quando ganhou sua primeira bicicleta, Larissa desenvolveu uma conexão forte com o meio de transporte. “Sempre fui muito ligada à mobilidade. Já participei, por exemplo, do projeto Bike Anjo – que ensina pessoas a pedalar – e em Pirenópolis fazia o Bicicleta na Escola, que incentivava crianças a usar o meio de transporte”.

A relação, no entanto, transformou-se completamente assim que ela decidiu embarcar na jornada internacional. A ideia surgiu num momento de indisposição psicológica, quando Larissa passou a questionar sua vida e o crescimento pessoal e que tinha. Daí, decidiu vender tudo e partir para a Europa, surpreendendo a família e os amigos.

“Para mim também foi uma surpresa. Eu não tinha nenhuma experiência internacional, não falava inglês e não tinha muito dinheiro juntado. Além disso, não sabia se ia me adaptar à viagem, ter lugar pra comer, dormir, etc”, comenta.

A escolha do primeiro destino, Portugal, foi motivada por várias dessas dificuldades. “Fui para Portugal pela percepção da Europa ser mais segura e porque eles falam português”.

O plano inicial contava com um roteiro que levava Larissa até a Itália, onde pretendia dar início ao processo de tirar a cidadania italiana, que ela tem direito. No entanto, na primeira passagem pelo país (após também passar por Espanha e França), ela percebeu que não teria tempo para completar todas as etapas necessárias.

Sendo assim, em outubro ela viajou para a Turquia, onde vive até hoje, entre idas e vindas de bicicleta.

Larissa mora na Turquia desde outubro / Foto: acervo pessoal

Independência

Para custear a viagem, Larissa Cantarelli vendeu tudo o que tinha. O plano foi suficiente para sustentar um ano de viagem, com cerca de R$ 12.347,14. Com o fim da renda guardada, então, passou a apostar no trabalho no Instagram e na venda de cartões-postais.

No perfil da rede social – @larissacantarelli – ela compartilha imagens e relatos das suas principais experiências ao redor do mundo.

Entre as principais experiências, está a passagem pela Turquia, onde chegou pela primeira vez em outubro de 2019. Ali, ela passou a se dedicar mais a estudar inglês, com a ajuda de vídeos na internet e aplicativos com cursos. “Eu cheguei sem falar nada de inglês, mas hoje já me dou muito bem, leio e vejo vídeos no idioma sem problema”, explica. (Larissa está tão bem adaptada ao inglês que durante a entrevista citava expressões e palavras na língua, ao invés de usar o português, menos frequente na rotina)

“A Turquia foi uma mudança mais radical, até porque eu não sabia nada da cultura”, explica. “E eu já estava com medo, porque muita pessoas falavam que era perigoso para mulheres, além de muito frio no inverno”.

Apesar da tensão da expectativa, o local encantou a viajante com suas peculiaridades, paisagens e história. “Eu fiquei encantada, porque era tudo diferente do que já vi. Quando cheguei, me apaixonei, mas eu já tinha passagem comprada para Israel, então decidiu que voltaria depois do inverno”.

Por conta do clima frio, desfavorável para quem quer pedalar (e para quem cresceu em Goiânia) ela saiu do país e aproveitou para conhecer partes de Israel e Egito, mas acabou sofrendo com o lockdown provocado pela pandemia de Covid-19.

“[Em Israel] Fecharam as fronteiras e meu voo foi cancelado. Fiquei três meses de lockdown, com cinco voos cancelados nesse período, fechada e sem poder ir para a rua, além da pressão da necessidade de estender o visto para permanecer no país”, relata.

A estadia no país, porém, contou com a ajuda dos responsáveis por seu trabalho voluntário. A meta inicial era de ficar por ali por apenas umas semana, mas acabou ficando por mais tempo, sem precisar bancar com os custos, mesmo que o hotel em que trabalhava estivesse fechado.

Depois do período de isolamento restrito, Larissa conseguiu retornar para a Turquia, em 19 de setembro de 2020, de onde vai partir para Bulgária e Itália (mais uma vez, fugindo do inverno e tentando dar prosseguimento ao projeto de cidadania italiana).

Inspiração

Atualmente, os objetivos de Larissa incluem ao menos mais dois de viagem. No primeiro deles, pretende conhecer o Marrocos e passar por toda a Europa, completando o continente. “No último ano, quero passar pela China e ir até a Índia, para depois registrar tudo num livro”, conta.

Além de narrar as aventuras que vive durante as viagens, Larissa tem a intenção de inspirar outras pessoas, principalmente mulheres, a realizar seus sonhos e sair da conformidade para buscarem seus objetivos.

“Quero quebrar a ideia de que você precisa de um trabalho, um negócio, pra ser bem sucedido. Mostrar para as pessoas uqe é possível seguir o sonho, mas só essa frase é algo muito lúdico. Eu quero mostrar a ideia de alguém olhar e pensar ‘olha lá aquela menina, aquela mulher, foi lá tentou e olha tudo o que conquistou’”.

Nesse cenário, ela também chama atenção para a forma como os problemas e desafio são superados durante o contato com outras culturas. Especialmente antes de visitar países muçulmanos, Larissa recebe muitos questionamentos sobre a segurança da viagem, ainda mais sendo mulher.

“As pessoas perguntam se tem assédio e sim, tem, mas é diferente. O homem aqui tem uma coisa de ter que cuidar família, da força do patriarcado, mas é isso é algo que a gente vê no cristianismo, na nossa cultura também, então não é por ser muçulmano que tem algum perigo. A mulher pode ter vários tipos de assédio em qualquer país, então é saber lidar e lutar com isso”.

Perrengues

Apesar das maravilhas e da experiência de vida, Larissa também passa por uma série de desafios e perrengues na jornada. O últimos deles, e um dos mais marcantes, aconteceu em setembro, quando ela foi atacada por um urso durante um acampamento.

“Eu estava procurando um lugar pra acampar e encontrei um outro viajante, alemão, indo para o mesmo lugar. Era um lago vulcânico numa cratera a 2 mil metros de altura, um lugar lindo, um paraíso chamado Monte Nemrut”, conta.

“Chegamos no fim do dia e vimos uma bolsa e uma tenda completamente destruídas, com algum lixo no local, e meu amigo me disse: ‘acho que aqui tem urso’”. A informação, inclusive, não era novidade para ela, que não tinha dado atenção suficiente aos alertas.

Pensando em se proteger, a dupla tomou algumas precauções, armando a barraca próximo a uma parede de pedra, para proteção; fazendo uma fogueira nas proximidades, para espantar animais; e deixando a comida num lugar afastado, para não atrair os animais.

“Ele foi dormir e eu não conseguia parar de pensar no urso, até que por volta das 3h da manhã eu ouvi os passos e a respiração do animal. As bicicletas estavam de foram e ele derrubou, pegou coisas das mochila, veio com a pata para cima da barraca e mordeu o pé do meu amigo. Na hora, fizemos muito barulho e o urso saiu, mas ficou nas proximidades”, conta.

 

Urso rasgou a barraca da Larissa / Foto: acervo pessoal

A partir daí, com o colega ferido, os dois passaram a monitorar o animal e pensar em planos de fuga caso fossem atacados. “Isso tudo aconteceu num espaço de meia hora, até que o urso parou de beber água, passou por nós e foi embora. Nessa hora a gente escalou a parede de pedra para passar o resto da noite e conseguiu fazer curativos com um kit de primeiro socorros, suficiente para o momento”.

Liberdade

Mesmo com os desafios, Larissa se mostra completamente apaixonada pela experiência de viajar pedalando. Ainda hoje, lembra de como foi importante ter contato com a bicicleta para sair da depressão, com a prática de esportes e a sensação de liberdade que busca ao pedalar.

“Num dia você pedala 5 km, no outro 10, e aí você está pedalando 100. No caminho, você tem tanta percepção de si do lugar, se conecta com o momento, com as pessoas e está presente no momento”.

Além disso, ela também destaca a bicicleta por ser algo que simboliza o passado, o presente e o futuro, sem fazer distinção de classes, gêneros, cor ou quaisquer outras categorias. “A bicicleta já estava lá antes da Primeira Guerra Mundial, antes do carro, está muito presente hoje e faz parte das soluções de transporte do futuro. E você pode ser pobre ou pode ser rico, tem uma forma de acessar, desde que você consiga guiar a bicicleta”.

A liberdade também conta com a ajuda da conectividade e da tecnologia, já que Larissa conta muito com o celular para as viagens. Segundo ela, é muito fácil o acesso a aplicativos par achar hospedagem, alimentação, trabalhos voluntários e até mesmo locais de acampamento (como aquele em que foi atacada pelo urso).

“Geralmente eu consigo trabalhos voluntários de 5h por dia, ganhando comida e hospedagem, tendo o resto do dia livre e folgas durante a semana. Algumas pessoas também gostam de convidar para você dormir na casa delas ou ajudar.” explica. “Eu gasto menos quando estou viajando do que quando estou parada, porque as pessoa ajudam muito. Mas também, durmo muito com minha rede nas praças, nas praias, às vezes até sem tenda, para sentir mais dessa liberdade”.

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Policial Militar é indiciado por homicídio doloso após atirar em estudante de medicina

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) confirmou que as câmeras corporais registraram a ocorrência. O autor do disparo e o segundo policial militar que participou da abordagem prestaram depoimento e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações. A investigação abrange toda a conduta dos agentes envolvidos, e as imagens das câmeras corporais serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
 
O governador Tarcísio de Freitas, de São Paulo, lamentou a morte de Marco Aurélio por meio de rede social. “Essa não é a conduta que a polícia do Estado de São Paulo deve ter com nenhum cidadão, sob nenhuma circunstância. A Polícia Militar é uma instituição de quase 200 anos, e a polícia mais preparada do país, e está nas ruas para proteger. Abusos nunca vão ser tolerados e serão severamente punidos,” disse o governador.
 
O ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Claudio Silva, avalia que há um retrocesso em todas as áreas da segurança pública no estado. Segundo ele, discursos de autoridades que validam uma polícia mais letal, o enfraquecimento dos organismos de controle interno da tropa e a descaracterização da política de câmeras corporais são alguns dos elementos que impactam negativamente a segurança no estado. O número de pessoas mortas por policiais militares em serviço aumentou 84,3% este ano, de janeiro a novembro, na comparação com o mesmo período do ano passado, subindo de 313 para 577 vítimas fatais, segundo dados divulgados pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) até 17 de novembro.
 
O Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp) do MPSP faz o controle externo da atividade policial e divulga dados decorrentes de intervenção policial. As informações são repassadas diretamente pelas polícias civil e militar à promotoria, conforme determinações legais e resolução da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP).

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