Última atualização 03/03/2022 | 19:23
Março deve ser menos chuvoso na região sudoeste de Goiás. A previsão meteorológica desfavorável para os produtores rurais tende a elevar os preços das carnes ainda mais. É que a plantação de milho e sorgo pode ser afetada com o ritmo desacelerado das águas e torná-lo mais salgado para a ração dos bovinos e das aves.
O comprometimento do desenvolvimento da planta ocorre devido ao atraso na colheita da soja e consequente demora no plantio do milho e do sorgo. Além disso, a seca no sul do Brasil também prejudicou a oferta dessa matéria-prima fazendo valer a lei da procura e da demanda, ou seja, elevando o preço de um dos principais itens da cadeia agropecuária.
De acordo com o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás (Cimehgo), André Amorim, a expectativa era de início do período de seca somente em maio. “O fenômeno La Niña, que é o resfriamento das águas do Pacífico Equatorial, está ativo desde outubro do ano passado. As projeções já apontavam para chuvas irregulares nos próximos seis meses. Agora, em março, os indicadores apontam chuva abaixo da média em relação a todo, como no ano passado, e preocupa por causa do plantio da segunda safra”, explica.
Para outras regiões do estado, a previsão é a presença desacelerada do período de chuvas bem ao estilo de Tom Jobim e Elis Regina com a máxima “são as águas de março fechando o verão”. As estatísticas apontam que elas serão irregulares, menos volumosas, mas com chance de temporais esporádicos.
Nos últimos dias, o tempo com a ameaça constante de chuva e calor escaldante vem dominando o céu no estado. Segundo André, deve permanecer assim enquanto estivermos com o vórtice ciclônico de altos níveis (VCAN) em ação na região central do País. Por causa dele ocorre um bloqueio atmosférico no qual a formação de chuvas ocorre com mais dificuldade, e, somado às altas temperaturas, resulta no mormaço característico desde a semana passada.
Justamente por isso, o final de semana que começa nesta sexta (04) deve ser de sol e variação de nebulosidade em todo o estado. A combinação de calor e umidade vai auxiliar a ocorrência de pancadas de chuvas que podem ser localmente fortes e acompanhadas de rajadas de vento e raios. “Temos uma frente fria causando chuvas na altura de São Paulo e do Paraná que resulta em áreas de instabilidade na área central brasileira. Em Goiás, ela nos influencia com a circulação de umidade”, detalha o gerente do Cimehgo.
Crise hídrica
A queda do regime de chuvas pode impactar na oferta hídrica para os goianos. O alerta serve para a população consumir o recurso com moderação, apesar de cursos d’água estarem aparentemente em bom nível e a própria barragem do rio João Leite ter alcançado o volume máximo.
“Como a chuva vai parando pelo cenário de estiagem mais antecipado, os rios vão respondendo. As pessoas começam a consumir mais água, usarem mais o ar condicionado, tomarem mais banho e aumentarem o consumo de água. Vários rios não têm reservação e a tendência sentirmos na pele o calor e a baixa nos rios a partir de meados de abril”, frisa André.
Evento raríssimo
Neste ano, o Brasil pode viver um evento climático raro: a La Niña ocorrendo por mais de dois anos consecutivos. Assim como no ano passado em que houve o predomínio do fenômeno, as previsões para 2022 são de chuvas terminando em abril para dar início à estiagem e ainda retorno delas entre outubro e novembro.
Softwares avançados de computador apontam para 35% de chances disso ocorrer. Nos cálculos, 45% indicam neutralidade do fenômeno e 20% de El Niño. Se a possibilidade apontada por alguns modelos climáticos se tornar uma realidade, esta será a quarta vez em que essa situação ocorre. Os registros começaram em 1950 e notificaram esse tipo de ocorrência de 1954 a 1956 e depois entre 2010 e 2012. Um dado inédito é a La Niña que ocorreu por quatro anos de 1973 a 1976.