O retorno de notificações de doenças infecciosas em crianças tem assustado especialistas e a população. A explicação é a baixa cobertura vacinal, principalmente entre as crianças. Nos hospitais de todo o mundo, os casos de sarampo, rubéola, caxumba, influenza e de Covid entre essa população começam a ser observados com mais frequência. Em Goiás, a imunização está em queda nos últimos anos.
“As pessoas não estão indo às unidades se vacinar. O risco, além do individual, é a exposição da comunidade. Quando deixamos de nos vacinar ou os índices de cobertura vacinação ficam abaixo do recomendado, as doenças voltam a circular. A não vacinação contra o sarampo e paralisia infantil, por exemplo, aumenta as chances de essa doença voltar e esse risco é real”, explica o infectologista Marcelo Daher.
Neste ano, os dados parciais sugerem que a aplicação da tríplice viral contra sarampo, rubéola e caxumba em crianças goianas de um ano de idade não alcançará todas as que se encaixam no público-alvo. Somente 22,03% delas estão imunizadas. Em 2019, apenas 88,39% foram protegidas contra o vírus, no ano seguinte o índice baixou para 75,36% e em 2021, a taxa subiu discretamente e chegou a 76,92%.
A campanha contra a Influenza também registrou queda na adesão das pessoas. O painel Localiza SUS não apresentou dados consolidados dos últimos três anos, mas aponta que o total de pessoas protegidas contra a Influenza caiu de 93,5% em 2019 para 74,8% no ano passado.
O incentivo para a vacinação em 2022 de grupos específicos, incluindo crianças, termina na sexta-feira da próxima semana, em 03 de junho. No entanto, os pequenos goianos de 6 meses a menores de 5 anos correspondem a 18,3 % do montante, conforme dados até 16 de maio.
O esforço dos municípios, estados e do Governo Federal para alavancar a cobertura em crianças de 5 a 11 anos de idade vacinadas contra Covid também não tem surtido o efeito esperado. Desde o início deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação de doses nos menores. A desconfiança dos pais e responsáveis faz com que nem metade delas estejam protegidas contra o coronavírus com a primeira dose (48,73%) e apenas um quinto tenha recebido a segunda dose (21,06%).
O risco ganha novas e visíveis proporções com a confirmação da chamada “varíola do macaco” na Europa, apesar de ser endêmica na África. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já confirmou 131 casos da doença e investiga 106 suspeitos. O vírus causador é parecido ao da varíola humana, erradicada há 40 anos, e causa sintomas mais leves.
“A varíola pode voltar com o registro de varíola do macaco. É uma ameaça à população e, por isso, deve ocorrer a imunização contra a varíola novamente. O retorno de doenças que causaram estigma, deformações e levou muitas crianças ao óbito é muito negativo”, considera Daher.