‘Tio Paulo’: idoso levado morto ao banco vivia em situação precária

Imagens obtidas com exclusividade pelo Fantástico mostram a situação precária vivida por Paulo Roberto Braga, de 68 anos, idoso que foi levado morto a uma agência bancária para fazer um empréstimo de R$ 17 mil. O homem morava em um quarto improvisado em uma garagem de 4 metros quadrados, dormindo sob colchão velho colocados em cima de caixotes, sem janela, armário ou qualquer conforte para um idoso.

O quarto fica localizado na Estrada do Engenho, em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Nas imagens é possível ver que o local continha um vaso sanitário com o que parece ser uma colcha em cima, uma pequena escrivaninha e alguns poucos objetos. O único ponto de ventilação do local era um buraco coberto por lona e, além disso, o quarto era frio, úmido e com cheiro de mofo.

Apesar de ser um bairro bastante movimentado, os vizinhos de Paulo conheciam o idoso. Segundo os vizinhos, o idoso era um homem solitário e não costumava a receber parentes na casa. Além disso, o idoso tinha problemas com bebidas alcóolicas e passava por dificuldades para se alimentar, o que fez com que a vizinha realizasse doações para ajudá-lo.

Paulo morre na última terça-feira, 16, após passar horas transitado em uma cadeira de rodas com a sobrinha Érika de Souza Nunes, que dizer ser cuidadora e sobrinha do idoso. A mulher, no entanto, não foi reconhecida pelos vizinhos do homem.

Problemas psicológicos

Durante a entrevista ao Fantástico, os parentes de Érika a defendeu do caso e disseram que ela possui problemas psicológicos. A família informou que, antes de sair de casa até o banco, por volta de 12h20 ou 12h25, o idoso ainda estava vivo.

Segundo o filho de Érika, Lucas Nunes dos Santos, a mãe possui um histórico de tentativas de suicídio e médicos chegaram a pedir uma internação psiquiátrica em 2022 e 2023 por dependência de sedativos, além de alucinações recorrentes.

“Eu gostaria que as pessoas fossem mais sensíveis com a situação que estamos vivendo. Estamos enfrentando a perda do nosso tio e esse grande mal-entendido com a nossa mãe”, disse Lucas.

A família informou ainda que o empréstimo pedido por Paulo seria utilizado para reformar o quarto em que ele vivia. As parcelas seriam descontadas no benefício do governo em que o idoso recebia. O pedido do empréstimo foi, segundo a família, realizado em 25 de março deste ano.

Érika permanece presa no Rio de Janeiro.

Relembre o caso

Uma mulher, identificada como Érika de Souza Nunes, foi presa na última terça-feira, 16, após levar o cadáver de um suposto ‘tio’ para fazer um saque de R$ 17 mil em um banco no Rio de Janeiro. O crime foi descoberto pelas atendentes do local, que acionaram o SAMU e registraram as cenas dos crimes.

Nas imagens, a mulher aparece carregando o suposto tio em uma cadeira de roda e tenta fazer com que ele assine um documento para sacar o dinheiro. Ela simula uma conversa com o tio e tenta, sem sucesso, fazer o parente segurar a caneta. “Se o senhor não assinar, não tem como, eu não posso assinar pelo senhor”.

É possível notar que os funcionários da agência bancária desconfiam do estado de saúde do homem, e chegam a dizer que ele não parece estar bem. No entanto, a mulher afirma que o idoso está bem. “Ele não diz nada, ele é assim mesmo (…) Tio, você quer ir para o UPA de novo?”.

A mulher chega a simular que o tio abriu a porta para entrar no banco, mas as funcionárias afirmam que não viram a situação.

Devido ao estado de saúde e desconfiança dos funcionários, o SAMU foi acionado para resgatar o homem. Foi atestado pelos socorristas que o homem já estava morto há algum tempo, ou seja, antes de entrar no banco.

A mulher foi detida pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e foi ouvida na Delegacia de Bangu, região da agência bancária. Ela foi presa em flagrante pelo crime de tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio a cadáver. Caso seja condenada, Érika poderá ficar até 13 anos presa.

O corpo do idoso foi examinado no Instituto Médico Legal (IML), a fim de apurar as circunstâncias da morte. A Polícia Civil investiga se o crime teve ou não a participação de outras pessoas.

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