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Alimentação e sedentarismo não são as únicas causas da obesidade, apontam especialistas

Última atualização 04/03/2022 | 19:09

Todo mundo conhece a receita de uma vida saudável: alimentação balanceada e atividades físicas. A máxima, no entanto, pode não resultar em peso adequado para muitas pessoas. No caso dos obesos, essa “regra” depende de muito mais elementos para promover a perda de peso, retomada da saúde e conquista da famosa qualidade de vida.

A doença de origem metabólica é considerada uma epidemia entre os brasileiros. Dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) apontam mais de 18 milhões de pessoas no país apresentam essa condição. O total de daquelas acima do peso ultrapassa de 70 milhões e as estimativas revelam que são 2 milhões de novos casos por ano, por isso a relevância de falar sobre o assunto no dia mundial da obesidade, celebrado em 04 de março.

Considerada um problema multifatorial, a obesidade tem dois principais ingredientes em sua fórmula: a genética e fatores externos. A falta de sono saudável e doenças mentais correspondem aos aspectos mais contornáveis, porém a questão é complexa. A endocrinologista Pryscilla Moreira alerta para os reflexos da pandemia nos índices da doença e ressalta a necessidade de manter atividade física regular e alimentação balanceada.

“É necessário um sono adequado, pois é durante ele que há a regulação de diversos hormônios como o da saciedade e o da fome. Quando há privação de sono, os estudos já mostram que há uma diminuição do hormônio associado à saciedade e um aumento do hormônio associado à fome. Assim, quando a pessoa dorme menos ela vai ter mais fome, vai comer mais e facilitar o ganho de peso. Por isso, é necessário um sono regulado para que a gente consiga diminuir a influência desses hormônios no ganho de peso“, afirma.

A médica também destaca como a ansiedade, depressão e compulsão alimentar influenciam na desregulação da balança. “Elas devem ser tratadas, pois podem favorecer ingestão inadequada de comida e calorias, privilegiando alimentos hipercalóricos e um excesso de calorias no dia, que vai facilitar o ganho de peso. Precisamos atingir todos esses pontos com uma dieta balanceada e a prática de atividades físicas, principalmente com ganho de massa muscular, que melhora a sensibilidade à insulina e o metabolismo”, complementa Pryscilla.

Estilo de Vida

Alterações hormonais são lembradas pela nutricionista clínica e esportiva Maíra Azevedo como tópicos relevantes quando se trata de obesidade, assim como o estilo de vida. “Se a pessoa tiver problemas na tireoide, o metabolismo vai ficar lento e isso propiciará o acúmulo de gordura. A alimentação e o sedentarismo também contam, claro”, frisa. Pela experiência no consultório, a profissional considera que inclusão de boa alimentação e de atividade física à rotina estão no mesmo nível de dificuldade.

Essa percepção é a mesma do empresário Jader Campos. Aos 41 anos, ele coleciona histórias de tentativas malucas para emagrecer. O esforço para perder os quilinhos extra inclui até duas cirurgias, sem muitos resultados positivos. Ele sempre foi uma criança gordinha e na família, muitos integrantes apresentam sobrepeso. Uma das lembranças de infância dele é ir na padaria da cidade onde morava e comprar tudo o que queria para comer aos montes em casa.

“O que você imaginar, eu já fiz. Tomei remédios, fui a um monte de médicos de diversas especialidades, fiz caminhada, tentei várias dietas…Os resultados até aparece, mas não se mantêm porque é uma questão de estilo de vida mesmo. Passei por um bypass gástrico muitos anos atrás e uma sutura endoscópica, que é costurar o estômago”, diz. Jader afirma que não tem problemas como insônia ou depressão, mas reconhece ter ansiedade apesar de não buscar tratamento específico.

A endocrinologista Pryscilla reforça a importância de um psiquiatra ou um psicólogo na atuação em conjunto durante o tratamento do paciente obeso. Um especialista em sono também pode ser essencial. “A insônia está relacionada ao aumento de casos de alterações psicológicas como depressão e ansiedade, condições que podem interferir nos resultados dos tratamentos para perda de peso e ganho de massa“, detalha.

Perda de peso lenta?

O ritmo de emagrecimento, assim como a doença, apresenta variações individuais entre os pacientes. O chamado “efeito sanfona”, que é a perda seguida do ganho de peso após uma dieta, pode ser um dos vilões nesse contexto. A nutricionista Maíra explica que o seguimento da dieta e realização de exercícios apresenta resultados diferentes entre quem passou e nunca passou por esse rebote da balança.

“Para quem nunca teve, a perda pode ser de quatro quilos por mês enquanto entre os que já tiveram, o emagrecimento oscila entre um e dois quilos e meios mensalmente”, revela.Esse processo de ganho e perda de peso está totalmente atrelado à falta de disciplina, objetivos e prioridades.

Resistir a tentações de doces e massas demanda controle do comportamento alimentar, considerando que o excesso e certos tipos de alimentos não devem ser um hábito diário. Quando considerações sobre o que vale a pena a médio e longo prazos se tornam mais claras, dizer não e fazer trocas saudáveis na alimentação fica mais fácil.

“Quando a pessoa entende o que é vontade, fome e ansiedade, ela consegue adotar essas mudanças sem sofrer porque se torna algo natural”, defende Maíra. No entanto, Pryscilla pondera que o sono adequado, o tratamento das comorbidades associadas como ansiedade, depressão e compulsão alimentar e ainda mudanças de estilo de vida ajudam no controle da obesidade, “mas em alguns casos só essa mudança não vai ser suficiente”.

Custos físico e financeiro

“Por ser uma doença, a obesidade, como qualquer outra, pode ser demandar o tratamento medicamentoso e, muitas vezes, até cirúrgico. Às vezes, o ideal vai ser iniciar o tratamento medicamentoso, lembrando que ele deve ser individualizado, que o paciente deve passar por uma avaliação médica para determinar tanto a indicação como as contraindicações, decidir qual o medicamento mais apropriado”, ressalta a endocrinologista.

A situação preocupa, especialmente pelas perspectivas alarmantes. Um estudo realizado por 17 universidades do Brasil e uma do Chile concluiu que 68% da população poderá estar acima do peso sendo 26% desse montante de pessoas obesas até 2030 no país. A doença exige acompanhamento de especialistas em diversas áreas e muitos brasileiros não podem arcar com todos os custos do tratamento. O cenário de aumento de doenças crônicas, a exemplo de diabetes, hipertensão e colesterol alto, de correntes da obesidade e grande demanda devem estrangular  Sistema Único de Saúde (SUS).

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